quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Onde navios de cruzeiro são construídos e como são colocados na água?

Da a época do famoso Titanic até hoje, muitas coisas mudaram na construção naval. Para ser colocado na água o naufragado transatlântico foi construído em um estaleiro inclinado e, quando sua estrutura estava pronta, precisou de três toneladas de sabão e óleo de trem para que ele escorregasse em direção ao mar. Hoje em dia ainda existem vídeos que fazem sucesso no YouTube de navios sendo lançados ao mar de forma parecida com a do Titanic, jogando quantidades enormes de água no ar, inclusive nas pessoas que estão assistindo ao evento.
Com os gigantes navios de cruzeiro, que já estão até cinco vezes maiores que o Titanic, não dá para pensar em colocá-los na água dessa forma, por isso os estaleiros atuais são estruturas imensas e com muito mais tecnologia!
Quantum of the Seas saindo do Meyer Werft. Img: Alamy Live News
Os principais estaleiros, que constroem os maiores navios do mundo, são o Meyer Werft, na Alemanha; o Chantiers de l'Atlantique (STX France), em Saint-Nazaire, França; e o Meyer Turku (STX Finland), na Finlândia. Esses três estaleiros foram responsáveis, por exemplo, pela construção do Norwegian Escape, Harmony of the Seas e do Mein Schiff 4.
O Meyer Werft possui 2500 trabalhadores! Img: meyerwerft.de
A construção dos navios de cruzeiro é feita de forma parecida com um jogo de encaixe: as peças são pré produzidas pelo estaleiro e são todas colocadas juntas em locais chamados de "doca seca", que são grandes áreas onde pode ser controlada entrada e saída da água do mar. É lá também para onde os navios vão quando precisam fazer suas manutenções de quatro em quatro anos, em média.
Meyer Turku durante um rigoroso inverno da Finlândia. Img: mapio.net
O estaleiro Meyer Werft, na Alemanha, possui a maior doca seca coberta do mundo (primeira foto). Com 504 metros de comprimento e a altura de um prédio de 25 andares, essa é a construção com a quinta maior área utilizável do mundo, contando com um volume acima dos 4.7 milhões de metros cúbicos!
Uma curiosidade sobre esse estaleiro é que ele foi construído, em 1795, longe da costa para evitar os mares agitados, precisando ser feito um percurso de 36km pelo rio Ems até chegar ao mar aberto. Porém, mais de 200 ano depois, a produção do estaleiro passou de pequenos barcos de madeira a verdadeiros prédios, chegando ao ponto de precisar desligar a energia de duas cidades que margeiam o rio para retirar os cabos elétricos enquanto o navio passa!

Como tudo funciona
Para entender como os blocos são posicionados, como funciona uma doca seca e como os navios são colocados na água, assista a este vídeo produzido pela MK Timelapse da construção do AIDAprima no estaleiro Mistubishi, no Japão:



- A fase mostrada pelo vídeo já começa com o posicionamento dos blocos na doca seca, mas antes disso foram feitos diversos projetos, já que esse é o primeiro navio de sua classe, e todos os blocos foram feitos anteriormente pelo próprio estaleiro (como pode ser visto em 0:35 min). Só depois disso essas "peças de Lego" são posicionadas pelos guindastes e soldadas por diversos trabalhadores que vão aos poucos dando forma ao navio.
Fonte da imagem: Boards.CruiseCritic
- Perceba que em 0:56 é criado um espaço retangular e são colocados os motores nele. Isso acontece porque eles são tão grandes que não é possível, como em um carro, construir a estrutura e depois colocar o motor. Vendo dessa altura eles parecem pequenos, mas olhe a imagem ao lado, de um dos seis motores do Harmony of the Seas, e compare o tamanho com o trabalhador de laranja para entender o porquê. Por isso é preciso primeiro posicioná-los e só depois construir os decks acima deles!
-  Durante o vídeo você pode ver que os blocos colocados até a parte do casco do navio são menores que aqueles acima dele; em 3:00 é colocada uma peça de quatro andares de uma só vez. Isso é possível porque a parte de cima do navio é muito mais leve que a inferior, feita toda em aço, para permitir que, mesmo com a altura de um prédio, ele não tombe. O princípio é o mesmo daqueles brinquedos infláveis "João Bobo": você pode até tentar colocá-los de lado, mas eles sempre voltam para a vertical. Na construção do Queen Mary 2, por exemplo, ao adicionar dois decks de cabines com varanda em cima, foi necessário repensar o projeto para não tornar o topo pesado em relação à base, tornando o navio instável.
- Observe em 4:35 que são abertas as passagens de água da doca, fazendo com que o navio flutue de uma forma bem diferente de como ocorreu com o Titanic!
- Curiosidade: Em 5:37 são iniciados os desenhos característicos de todos os navios da Aida. Só para pintar aquela boca ali na frente foram necessários 300 litros de tinta!

Doca flutuante em Freeport. Fonte da imagem: Panoramio
Como você pôde ver, os estaleiros viraram complexos industriais imensos com tecnologia de ponta. Para colocar os navios na água, em vez de jogá-los, as docas secas possuem portas como as usadas nas eclusas, tornando o evento de flutuação muito mais natural.
Além desse tipo de doca também existem as mais simples, chamadas de "docas flutuantes". Basicamente elas são capazes de se encher de água ou ar, fazendo com que afundem ou flutuem. Uma doca desse tipo é encontrada, por exemplo, no estaleiro de Freeport, nas Bahamas, responsável pela manutenção de quase todos os navios que operam anualmente pelo Caribe e região.

Copyrigh© all rights reserved. Imagens e Textos com direitos reservados. Rodrigo Guerra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário