sábado, 19 de setembro de 2015

Os navios de cruzeiro são realmente seguros?

Muitas pessoas têm medo de fazer cruzeiros marítimos por motivos diversos, sendo os principais o risco de enjoar e o navio afundar. Além desses dois clássicos "problemas" dos navios, existem outros como o grande risco de contrair norovírus pelo aglomeramento de pessoas em um local fechado; e o risco de infecção alimentar causada pelo armazenamento, manuseio ou desinfecção indevida das dezenas de toneladas de comidas a bordo.
Com essa publicação quero desconstruir várias imagens erradas criadas sobre os navios a partir de casos muitas vezes isolados e que são generalizados para os cruzeiros até hoje.

O navio pode afundar em alto-mar!

 

O medo de um naufrágio é muito presente no imaginário das pessoas, principalmente no daquelas que depois de assistir ao filme Titanic disseram: "Não viajo em um navio nem que me paguem!". É importante lembrar que, 103 anos depois, muita coisa mudou. Para se ter uma ideia, naquela época quando um navio entrava em uma área com icebergs, o comandante aumentava a velocidade do navio para "passar mais rápido da área de risco". Tanto tempo depois, o que aconteceu naquela época não deveria mais atormentar os marinheiros de primeira viagem do século XXI, inclusive essa tragédia serviu de lição para diversas regulações que surgiram desde então.
Img: Wikimedia
Apesar disso não podemos negar que existem, sim, chances de o navio afundar; do mesmo jeito que existem chances de o carro bater, o avião e o elevador caírem ou o trem sair dos trilhos. Riscos sempre existem, mas é importante dizer que uma pessoa ao entrar em um automóvel ou, principalmente, subir em uma moto, tem chances incomparavelmente maiores de se envolver em um acidente que a bordo de um navio. Para deixar claro, os navios de cruzeiro ocupam a quinta posição na lista dos meios de transporte mais seguros do mundo! - nem precisa dizer que o carro passou longe de entrar nessa lista.
Os navios que navegam atualmente possuem as tecnologias náuticas mais avançadas do mundo, inclusive os da atual geração contam com as mesmas usadas pela marinha americana, fazendo com que os diversos radares, GPS, cartas náuticas e outros itens permitam uma navegação precisa por rotas predefinidas e com o auxílio do piloto automático.
Apesar de toda essa tecnologia e profissionalismo envolvidos, é possível que existam falhas humanas ou no sistema. O caso mais recente de um grande navio afundando foi o do Costa Concordia, em 2012, mas vale dizer que o navio estava com o piloto automático ativado e seguia sua rota normal, o comandante que imprudentemente desligou o sistema e levou manualmente o navio para perto da ilha de Giglio em uma ação puramente exibicionista que acabou com um naufrágio e a morte de 32 das mais de 4.200 pessoas que estavam a bordo.
Norwegian Dawn encalhado nas Bermudas. Img: G1
No começo de todos os cruzeiros os passageiros são obrigados a participar de um exercício de emergência 30 minutos antes da saída do porto, o chamado Muster Drill. Com esse treinamento todos os passageiros saberão para onde ir e o que fazer caso o alarme de emergência geral (soado antes do treinamento) seja acionado. Depois do caso Concordia ficou evidente que a demora para abandonar o navio foi fator determinante para a morte daquelas 32 pessoas e, por isso, os comandantes estão mais atentos que nunca, avisando de imediato aos passageiros e tripulantes caso algo ocorra. Um exemplo foi o Norwegian Dawn, que encostou em um banco de areia e imediatamente o alarme foi soado e todos os passageiros se dirigiram para os seus locais de emergência, uma medida de precaução fundamental nessas horas. Apesar do susto o navio foi puxado do local e continuou viagem normalmente.
Caso o navio venha a afundar em alto-mar, todos eles possuem botes salva vidas suficientes e grandes, podendo enfrentar ondas e chegar com segurança ao porto mais próximo. Os botes dos navios da atual geração são feitos para flutuar e navegar mesmo se estiverem inundados! A bordo de cada um existe kit de primeiros socorros e alimentos. Mas fiquem tranquilos que quase todos os botes salva vidas feitos até hoje nunca foram usados para abandonar um navio afundando.

Eu vou enjoar e passar a viagem toda vomitando!

 

Esse assunto já foi tema de uma publicação que até hoje está entre as mais lidas do RG Cruzeiros. O medo de enjoar é um dos primeiros que surgem quando se fala sobre cruzeiros com alguém que nunca fez esse tipo de viagem. Então esse assunto já foi abordado de forma detalhada e com diversas dicas para evitar esse problema, mas só vou dizer que em média apenas 3% dos passageiros enjoam a bordo, então isso é muito menos comum do que se imagina. Para saber mais sobre o assunto "enjoo" clique aqui e leia a publicação "Como evitar enjoo nos navios de cruzeiro".

Riscos de saúde

 

Infecção alimentar e norovírus são dois pesadelos tanto para os passageiros quanto, principalmente, para a tripulação. Existem diversos órgãos que fiscalizam de forma extremamente rigorosa os navios de cruzeiro, como o VSP (Vessel Sanitation Program) dos Estados Unidos. Uma ou duas vezes por ano todos os navios que transportam americanos são vistoriados pelo VSP de forma minuciosa, desde o gerenciamento de água e alimentos, até a limpeza de todo o navio. O Berlitz Guide 2015 ressalta que os navios obtêm resultados extremamente bons nesses testes e coloca que:
"Entretanto, se a mesma inspeção do USPH (inspeção da saúde pública americana) [usada nos navios de cruzeiro] fosse aplicada com os mesmos critérios em restaurantes e hotéis em terra (dos Estados Unidos), estima-se que 95% ou mais iriam ser reprovados."
Vale lembrar que para poder continuar a navegar, todos os critérios devem ser atendidos, se não o navio é impedido de sair do porto até que tenha todas as irregularidades resolvidas. Ou seja, imagine que no mínimo 95% dos hotéis e restaurantes que você frequenta nos Estados Unidos seriam interditados!

Quanto ao norovírus, o mesmo guia ressalta que "aproximadamente 23 milhões de americanos por ano são diagnosticados com os efeitos do norovírus" e que isso não é algo que dentro do navio tem muito mais chances de ser contraído. O problema é que o ambiente fechado pode propiciar a contaminação de mais pessoas, já que o contágio é feito por contato direto ou por alimentos (principalmente vegetais) mal desinfetados, porém o mesmo também pode acontecer em um shopping e ninguém deixa de sair de casa por isso. Com isso em mente as companhias investem pesado em prevenções, limpando constantemente locais onde as pessoas pegam e disponibilizando álcool em gel na entrada dos restaurantes e bares. Apesar de existir o risco do contágio a bordo, quase todos os casos de pessoas que apresentaram os sintomas - diarreia, vômito e dores abdominais - não contraíram o norovírus a bordo, e sim já embarcaram com ele e os sintomas (que surgem a partir de no mínimo um dia) só começaram no navio.
Caso ocorra de um passageiro ou tripulante surgir com os sintomas citados, ele é isolado em sua cabine e todo o navio é higienizado. Depois que a pessoa é levada para o hospital, a cabine também é completamente desinfetada, colocando os lençóis e toalhas em lavadoras especiais para casos como esse.
O fator determinante para apenas poucos casos (embora sejam fortemente noticiados) de contaminação pelo norovírus acontecerem de fato a bordo dos navios é o cuidado com a seleção, transporte, desinfecção, armazenamento e manuseio dos alimentos. A saúde e segurança das pessoas a bordo são prioridade para as companhias, por isso tudo é rigorosamente cuidado para não acontecer nenhum problema. Os navios são uns dos lugares em que todos nós podemos comer tranquilamente uma folha de alface, com a garantia de ela ter passado por uma desinfecção bem feita, já que qualquer falha na gestão alimentar pode custar muito caro para a imagem da empresa, que estará estampada nos principais jornais como "aquela onde várias pessoas tiveram infecção alimentar".

Diante de tudo o que foi mostrado, analise que é muito mais fácil um carro capotar que o navio afundar; as chances de enjoar em um navio são de apenas aproximadamente 3% e pode ser resolvido com um remédio; e quanto à limpeza e gestão alimentar, saiba que você está correndo muito mais riscos de contrair uma doença em mais de 95% dos hotéis e restaurantes dos EUA que em um navio!
Boa viagem!

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