sábado, 18 de abril de 2015

As consequências do Custo Brasil e da corrupção para o mercado dos Cruzeiros

O governo brasileiro parece não entender a importância dos cruzeiros para a economia do país. Meio a diversos escândalos de corrupção, descaso com infraestrutura e alguns dos custos de operação mais caros do planeta, o governo aparentava achar que ia ficar tudo bem, que a situação era aceitável e as companhias continuariam com suas operações normais no país.
No final de 2013 eu escrevi uma publicação com título "A (preocupante) situação dos cruzeiros no Brasil" na qual mostrei como o mercado de cruzeiros vem perdendo espaço rapidamente para outros países que oferecem melhores estruturas e custos absurdamente inferiores aos daqui.
O valor pago no porto de Santos (SP) pela taxa de embarque é mais de três vezes o preço cobrado em Miami e o custo de praticagem em Salvador, o mais alto do mundo, chega a custar quase US$110 mil, enquanto em Barcelona, na Espanha, custa US$3,8 mil, segundo a Abremar (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos).
Com números tão assustadores para nós, as mais assustadas da história são as companhias de cruzeiro que, em geral, vêm reduzindo sua oferta no Brasil nos últimos anos: por exemplo, a Pullmantur não vai mais trazer o Empress, que vai para o Caribe, e, como o Portal WorldCruises mostrou essa semana, a Royal Caribbean fechou os roteiros da temporada 2016/2017 e não vai dedicar mais nenhum navio para o mercado brasileiro. No site oficial da companhia realmente só existem cruzeiros até março de 2016 na América do Sul.
Isso já era bastante previsível, já que a companhia deixou de operar dois navios simultaneamente há um tempo e o diretor geral da Royal Caribbean no Brasil, Ricardo Amaral, já vem há anos reclamando da estrutura deficiente oferecida pelos nossos portos e pelos altos valores de operação cobrados por aqui. O clássico Splendour of the Seas foi vendido para a Thomson Cruises e, por isso, na próxima temporada o Rhapsody of the Seas fará a última temporada prevista. Ano que vem a companhia vai inaugurar dois navios de grande porte que, junto com os atuais, serão divididos entre América do Norte, Oceania, Ásia e Golfo Pérsico. Nada de Brasil.
Quem perde com isso somos nós. Para o país é uma perda muito grande cada navio que deixa de vir já que eles movimentam milhares de turistas por várias cidades e aquecem a economia local. Enquanto vários prefeitos, como os de Balneário Camboriú e Florianópolis, lutam para conseguir investimentos para entrar no mercado dos cruzeiros, trazer mais turistas e, como consequência direta, dinheiro para a economia, as armadoras já estão pegando seus navios e partindo para destinos que oferecem custos operacionais pelo menos 40% inferiores ao do Brasil e oferecem estruturas incomparavelmente melhores que as nossas. Para o brasileiro a perda é grande devido à redução de leitos e opções de navios, o que pode aumentar o custo dessas viagens devido à relação oferta e demanda.
Um dos novos destinos que estão recebendo mais investimento no mundo é a Ásia, que está recebendo alguns dos maiores navios do mundo, inclusive para operação durante o ano todo, e tem o seu número de leitos crescendo em ritmo acelerado por oferecer condições opostas às nossas.

A corrupção afetando diretamente o porto do Recife


Terminal de passageiros do Recife
Outro episódio recente que surgiu para piorar o cenário dos cruzeiros no Recife foram os escândalos de corrupção envolvendo a Petrobrás.
O porto do Recife tem um problema que aumenta o custo de operação e demora muito mais tempo para embarcar e desembarcar os passageiros, principalmente dos navios de grande porte. O problema é que a profundidade em frente ao terminal não permite a atracagem dessas embarcações, obrigando-as a ficar distante do local, e os passageiros são levados de ônibus do navio - na área de cargas do porto - até o terminal. A solução para esse problema é a conclusão de uma licitação enviada ao Governo Federal para liberar verbas destinadas à operação de dragagem, reforma do cais sete ao dez e ampliação da área de manobra dos navios, solucionando o problema do tempo gasto, desconforto dos passageiros e custo com transporte.
O que já era esperado para demorar, agora não tem mais previsão de acontecer. Por causa da vergonhosa e bilionária operação Lava Jato, a empresa que ia realizar a obra de reforma, a Galvão Engenharia, que estava envolvida no escândalo, está atualmente em recuperação judicial - embora tenha informado que está em "plenas condições de executar as obras nos termos dos contratos assinados, firmes e ativos", como dito em reportagem do Jornal do Commercio. Além disso os cofres públicos da união estão passando por uma fase péssima, consequência dos desvios de verba, e muito provavelmente o governo não vai mandar os recursos necessários nem tão cedo.
O presidente do porto do Recife, Olavo de Andrade, disse ao jornal que "se houver problemas na hora da assinatura do termo de compromisso, pode-se convocar a segunda e a terceira colocadas (Queiroz Galvão e Odebrecht, respectivamente), que podem ou não aceitar". É interessante observar que essas duas empresas também estão envolvidas nas denúncias da operação da Petrobrás...
Além desse problema que a Lava Jato trouxe para o nosso porto, ela também deve influenciar negativamente no turismo brasileiro de modo geral, já que o custo de vida aumentou muito neste ano para tentar cobrir o rombo causado pelos ladrões envolvidos, o que faz as pessoas reduzirem seus custos com lazer para conseguir manter o essencial, como energia, combustível, saúde, educação e alimentação.

O que fica para nós brasileiros é uma sensação de indignação diante desses fatos. Há muito se reclama da burocracia, infraestrutura e custos operacionais do Brasil para o mercado de cruzeiros e nada é feito. Para se ter uma ideia, desde 2000, quando a Royal Caribbean operou pela primeira vez com o Splendour aqui, essa questão já foi levantada pela empresa que chegou até a cancelar o navio no Brasil por algumas temporadas. O governo demorou demais para tomar alguma providência quanto a isso e agora, na atual crise que estamos passando, já é tarde para tentar reverter o constante abandono do mercado de cruzeiros do Brasil. Entre 2005 e 2010 a oferta de navios mais que triplicou no nosso país, agora só faz reduzir temporada a temporada. Até quando?
Vale a pena ver o "estudo de perfil e impactos econômicos no Brasil" feito pela Fundação Getúlio Vargas em 2011, quando os números ainda eram favoráveis, clicando aqui. Nele é possível ver como um mercado de cruzeiros bem consolidado traz inúmeros benefícios para o país.

Copyrigh© all rights reserved. Imagens e Textos com direitos reservados. Rodrigo Guerra.

4 comentários:

  1. Esse governo é um completo descaso com a população em inúmeras áreas. não tinha parado pra observar que até os cruzeiros também poderiam ser afetados com tamanha corrupção além das taxas abusivas! Já viajei no splendor e fico triste de ver que a royal nãoo deve voltar mais... Foi um navio querido dos brasileiros e que vai fazer falta; a empresa presta um serviço de qualidade para seus passageiros mas nao recebeu a menor atenção do governo, assim como todas as outras que operam aqui

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  2. Eu vi que uma empresa começou os estudos pra dragagem, mas nao tem dinheiro do governo envolvido... ou seja sem previsão de acontecer, só fazer o projeto mesmo. Descaso total. Mas se Aécio tivesse sido eleito não estaria muito diferente disso não, a lava jato nao iria deixar de existir

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    1. Sim, interessante falar disso. O Instituto Nacional de Pesquisas Hidrográficas está fazendo esse projeto sem custos para o porto do Recife, mas com recursos da União, sim. Depois de pronto o orçamento será enviado ao governo para ser liberado esse valor, o que pode demorar bastante.
      Quanto a Dilma ou Aécio, prefiro não levar a discussão para o lado partidário.

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